terça-feira, 5 de março de 2013

Ao Hugo, simplesmente Hugo...


Morreu Hugo Chavez. Não deixo de me inquietar com a carta que a ex-mulher lhe escreveu. Ultrapassando todas as questões ideológicas, políticas e corruptas...Raios me partam se quereria ser lembrada assim...

Hugo,
(...)
Diz-me, neste momento, antes que te apliquem uma nova injeção para acalmar as dores insuportáveis de que padeces, vale a pena que me digas que não te possam tirar a dança – ah! – as viagens pelo mundo, os maravilhosos palácios que te receberam, as paradas militares em tua honra, as limusines, os títulos honoríficos, os pisos dos hotéis cinco estrelas, as faustosas cenas de estado... Diz-me agora que vomitas a sopa de abóbora que as enfermeiras te dão na boca, se era sobre isso que se tratava a vida, pois os brilhos e as lantejoulas já não aprecem nos monitores e máquinas de ressuscitação que te rodeiam, as marchas e os aplausos agora são meros bipes e alarmes dos sensores que regulam teus sinais vitais que se tornam mais débeis.

Podes escutar o povo do teu país do lado fora do teu quarto?... Deve ser a tua imaginação ou os efeitos da morfina, não estás na tua pátria, estás em outro lado, muito distante, entre gente que não conheces... Sim, estás a morrer no teu próprio exílio, entre um bando de moços a quem confias-te o teu próprio país, teus últimos momentos serão passados entre chulos e vigaristas, entre a tua coorte de aduladores que só te mostram afeto porque lhes davas dinheiro e poder; todos te olham preocupados e com raiva, nunca deixastes que nenhum deles pudesse ter a oportunidade de te suceder; agora os deixas ao desabrigo e teu país à beira de uma guerra civil...
(...)

Bem, despeço-me; só queria que soubesses que passarás para a história do teu país como um traidor e um covarde, por não teres retificado tua conduta quando pudestes e por te deixares levar por tua soberba, por teus ideais equivocados, por tua ideologia sinistra renunciando aos valores mais apreciados, a tua liberdade e à liberdade dos outros, e a liberdade nos torna mais humanos.

Nancy Iriarte Díaz

7 comentários:

  1. Como é que alguem escreve essas palavras quando alguem esta prestes a morrer? Um pouco cruel...

    Beijinho*

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  2. Não acredito em pessoas 100% más, ele tinha família, por isso desejo-lhe bom descanso.

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  3. É dura e cruel como a realidade.
    É dura e cruel como ele era duro e cruel com todos os que não diziam "Amén" com ele. Estamos a falar de um ditador.

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    1. Não posso estar mais de acordo.
      São palavras duras, mas são a realidade. São a vida dele, quer queiramos, quer não.

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  4. Se a própria mulher o diz, quem somos nós para dúvidar! Podemos estar a padecer numa cama de hospital, a nossa vida a apagar-se, mas o nosso passado não se apaga connosco. Seremos lembrados por aquilo que fizemos!

    Que a morte do ditador, possa trazer uma melhoria para a vida dos venezuelanos.

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