Há poucos assuntos que me deixam numa ambivalência tão grande como esta greve dos professores neste dia de exame de língua portuguesa. Começo por dizer que respeito e admiro imenso a profissão de professor. São a base, a estrutura de todas as aprendizagens que fazemos ao longo da vida, ensinam-nos a ler, a escrever, a contar e, acima de tudo e mais importante, a pensar. Como em tudo na vida, tive professores bons e professores maus. Com os primeiros aprendi imenso, cresci, tornei-me uma adulta com pensamento crítico capaz de enfrentar etapas mais atrozes como a universidade e, mais tarde, o mundo laboral. Com os segundos, aprendi nada mais nada menos do que a valorizar os primeiros. Compreendo todos os argumentos que apresentam, as injustiças que sentem e a necessidade que têm de fazer com que valorizem a sua profissão. Mas hoje, hoje sinto um aperto estranho com a luta deles. Não consigo não me colocar na pele de milhares de alunos que passaram estas últimas semanas a estudar na permanente incerteza da existência ou não de exame. Não consigo deixar de pressentir a aflição que sentiria, eu, pessoa dada a apertos ansiógenos em fases de exames. Não consigo imaginar o que será chegar à escola pronto para apresentar tudo o que sei e ouvir que não há exame, que tenho de voltar não se sabe bem quando, nem se sabe bem como. Não consigo deixar de sentir a frustação de não ter a tarde de hoje como aquele descanso merecido depois da luta: a luta ainda nem começou dizem eles. Compreendo todos os argumentos dos professores, assim como as evidências de que o ensino enquanto instituição social está também a massacrar as oportunidades dos alunos. Mas fui aluna até há muito pouco tempo. Ainda sinto ainda aquele aperto no estômago que caracteriza a vésperas das grandes provas, ainda sei o que é ansiar pelas horas a seguir à conclusão do exame. Talvez a minha ansiedade crónica de recente ex-aluna me esteja a toldar o discernimento. Há alguém por aí nesta situação ou que tenha uma opinião bem fundamentada acerca deste assunto? Estou no meio da ponte e, acreditem, há muito poucos assuntos que me deixam assim.
Só o ano passado deixei de ser aluna, depois de 16 anos de interregno (entre licenciatura e mestrado). E seja como for, acho que um bom aluno está preparado ou hoje ou amanhã. E acho que o futuro dos professores, se não lutarem, não existe, ou seja, não têm amanhã!
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