A acessibilidade na troca de informação na
internet tornou-se, a meu ver, numa das ferramentas mais poderosas do século
XXI. Qualquer um de nós pode hoje partilhar coisas magníficas ou causar
estragos inimagináveis apenas com um clique. Os blogues, o facebook e todas as
outras plataformas que promovem a interação permitiram que as pessoas se
tornassem cada vez mais ativas na formulação de uma opinião bem como na sua
partilha para a esfera pública. Ótimo, pensamos nós. Criam-se oportunidades
iguais, favorece-se a liberdade de expressão, fomenta-se uma postura mais
ativa. Porém, o que eu assisto não raras vezes é a uma tendência atroz e
premeditada para a castração pública, quais vampiros com dentes afiados à
espera da primeira falha que derrame o sangue que eles estão ansiosos por
sugar. Basta-nos ler alguns comentários para percebermos o quão zangadas as
pessoas andam, o quão necessitadas estão de ter alguma coisa que apontar.
Perdeu-se, na minha opinião, a capacidade de fazer uma boa crítica e esta
palavra é agora imediatamente associada a algo negativo. Acho até que há quem
não saiba que não é esse o significado da palavra. Escondidas por detrás de um
computador, as pessoas tornaram-se seres exímios que não erram e
consequentemente não permitem o errar e muito menos o pensar de uma forma
diferente da delas. Os perfis de facebook de empresas são agora preenchidos com
críticas negativas que nunca foram expostas no local nem telefonicamente para
que tivessem oportunidade de serem resolvidas (no entanto, sempre que gostam do
serviço não o dizem ou fazem-no pessoalmente na maioria dos casos); os blogues
são inundados de ataques sobre o cárater e condição social de pessoas que nem
conhecem e os sites de notícias são palcos de acesas discussões que depressa
apontam culpados e culpas para todos os problemas.
Lembrei-me disto ao ler no perfil do Alta
Definição duras críticas ao Daniel Oliveira por ele entrevistar a Assunção
Cristas "Ah Daniel devias ter respeito e não convidar esse tipo de
gente" "Nunca mais vejo esse programa"...Não tenho nenhuma
afinidade partidária pela Assunção Cristas nem verei o programa por estar a
trabalhar. No entanto pergunto-me: todos os outros convidados eram seres
espetaculares? As pessoas que foram lá comentar agora também deram os parabéns
ao Daniel quando ele fez entrevistas de que gostaram? Não conseguem apreciar a
entrevista em si não obstante a profissão da pessoa que lá está?
Lembrei-me disto ao ler uma crítica que uma
senhora fez à Empadaria por uma refeição mal servida e ao ler a resposta que um
dos sócios depressa lhe apresentou.
Lembrei-me disto ao ver as duras críticas que
teceram à Pipoca Mais Doce por ela fazer, como faz sempre, a apreciação dos
vestidos dos Óscares e criticar negativamente um vestido de uma pessoa que
estava com problemas de saúde (dos quais ela não sabia).
O meu problema não são as críticas, é a sua
banalização. O meu problema são os juízos de valor apressados, as
tentativas imediatas de achincalhamento público, os moralismos provenientes de
quem julga nunca ter errado. Tenho para mim que não é este o caminho certo para
usufruirmos em pleno da liberdade de expressão.
Simplesmente não acredito em quem se quer
fazer notar através da capacidade de afiar a faca que vai lacerar os outros.
concordo ctg, excepto no que diz respeito à situação da senhora que criticou a empadaria do chef. acompanhei o caso e percebi que não só ela não foi a única a expressar o descontentamento com a comida do dito estabelecimento no facebook, como acredito que este meio não deve ser visto como forma de comunicação unilateral, isto é, de empresas que o usam unicamente para se autopromover. sendo bilateral, é normal que estes comentários surjam e concordo que seja feito (isto vindo de uma pessoa que critica e elogia no facebook quando acha que se justifica). é mais uma maneira de os consumidores se fazerem ouvir, a par do livro de reclamações ou de uma chamada de atenção aos funcionários que a serviram. nem sequer foi um comentário maldoso, foi uma crítica que a senhora fez na continuidade de outros que já lá estavam. se as empresas não pretendem ser contactadas pelo facebook (ou se só se interessam pelo feedback dos seus clientes sob a forma de "likes"), então há maneiras de o prevenir através da gestão das próprias páginas. achei a resposta da empresa demasiado dura para o caso, mas por outro lado - e reforçando a importância da bilateralidade -, só prova que o facebook serve também para que as empresas se possam defender ao vivo e não apenas através de funcionários contratados para servir em centros comerciais.
ResponderEliminarem relação aos outros casos que comentas, sinceramente fiquei espantada que não houvesse na blogosfera reservado um tratamento para a pipoca como houve para a pepa, pelo suposto conteúdo ofensivo do comentário. não apanhei quase ninguém a falar deste caso em blogues (o teu é o segundo!), mas sim em jornais, supostos sites informativos... ainda bem que se aprendeu qualquer coisa com a pepa, isso sim foi achincalhamento na praça pública. não vou tecer comentários à situação que causou este suposto surto de críticas porque o acto fica com quem o pratica e não há necessidade de lhe dar mais tempo de antena. além de que concordo com a tua posição.
no entanto, queria deixar aqui uma nota. não sei se conheceste o caso do "nunca mais compro nada na ensitel"? a prova de que a internet, a liberdade de expressão e os direitos dos consumidores também podem ter um desfecho feliz.
As pessoas encontraram na Internet uma forma de expressar o que sentem de forma quase anónima, só que por vezes não se expressam da melhor maneira e tendem a magoar as outras pessoas...A liberdade nem sempre é bem usada a meu ver! Bjinhos***
ResponderEliminarAdorei o penúltimo parágrafo. É uma reflexão bem feita!
ResponderEliminarConcordo com o que dizes: é muito fácil criticar com todas as ferramentas disponíveis que temos, que não só nos permitem ficar (mais ou menos) anónimos como fazer passar o nosso desagrado em tempo real, com eficácia. E, como em tudo o resto, há quem utilize esta ferramenta de forma produtiva, há quem utilize de forma estúpida.
ResponderEliminarNão acompanhei muito bem a história da Pipoca Mais Doce, por isso a minha opinião é muito simples e não tem nada a ver com a miúda estar doente ou não. A Pipoca Mais Doce errou redondamente ao não se ter dado ao trabalho de identificar a pessoa em questão. A minha perspectiva é que, para criticar alguma coisa, tenho de ter algum conhecimento sobre ela. O grande erro foi ter usado uma piada fácil, encontrou algures a foto da miúda e pronto, não se preocupou sequer em saber quem era. O mais grave de isto tudo é que ela é jornalista. Eu não sei, mas não deveriam ensinar nas licenciaturas de jornalismo a pesquisar as fontes ao preparar uma notícia?
Enfim, para a semana já se fala de outra coisa qualquer e como diria a minha mãe "As pessoas e as coisas só têm a importância que nós lhes damos."
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