Morreu Hugo
Chavez. Não deixo de me inquietar com a carta que a ex-mulher lhe escreveu.
Ultrapassando todas as questões ideológicas, políticas e corruptas...Raios me
partam se quereria ser lembrada assim...
Hugo,
(...)
Diz-me, neste
momento, antes que te apliquem uma nova injeção para acalmar as dores
insuportáveis de que padeces, vale a pena que me digas que não te possam tirar
a dança – ah! – as viagens pelo mundo, os maravilhosos palácios que te
receberam, as paradas militares em tua honra, as limusines, os títulos
honoríficos, os pisos dos hotéis cinco estrelas, as faustosas cenas de
estado... Diz-me agora que vomitas a sopa de abóbora que as enfermeiras te dão
na boca, se era sobre isso que se tratava a vida, pois os brilhos e as
lantejoulas já não aprecem nos monitores e máquinas de ressuscitação que te
rodeiam, as marchas e os aplausos agora são meros bipes e alarmes dos sensores
que regulam teus sinais vitais que se tornam mais débeis.
Podes escutar
o povo do teu país do lado fora do teu quarto?... Deve ser a tua imaginação ou os
efeitos da morfina, não estás na tua pátria, estás em outro lado, muito
distante, entre gente que não conheces... Sim, estás a morrer no teu próprio
exílio, entre um bando de moços a quem confias-te o teu próprio país,
teus últimos momentos serão passados entre chulos e vigaristas, entre a tua
coorte de aduladores que só te mostram afeto porque lhes davas dinheiro e
poder; todos te olham preocupados e com raiva, nunca deixastes que nenhum deles
pudesse ter a oportunidade de te suceder; agora os deixas ao desabrigo e teu
país à beira de uma guerra civil...
(...)
Bem, despeço-me; só queria que soubesses que passarás para a história do teu país como
um traidor e um covarde, por não teres retificado tua conduta quando pudestes e por te deixares levar por tua soberba, por teus ideais equivocados, por tua
ideologia sinistra renunciando aos valores mais apreciados, a tua liberdade e à
liberdade dos outros, e a liberdade nos torna mais humanos.
Nancy Iriarte
Díaz